sábado, 25 de março de 2017

(Go Go) Power Rangers

Tive uma daquelas infâncias onde, ou você tinha que ir correndo para escola porque precisou ver aquele último desenho/série antes de sair de casa, ou você voltava correndo da escola na intenção de ver os últimos (e melhores) desenhos/séries. A refeição em frente a TV nem sempre acontecia, porque dependia do nível de concentração. Nem sempre dava pra comer a apreciar o desenho/série ao mesmo tempo, sério. Era muito bom!

Power Rangers era uma das séries que precisava assistir. Ficava encantado com as lutas, armas, monstros e heróis. A trilha sonora, com aquela introdução de guitarra inesquecível, nunca me deixou enjoado, pelo contrário, era sempre vibrante e eletrizante! A introdução que me refiro é a da versão Mighty Morphin. Claro que tem outras aberturas legais, mas a de Mighty Morphin, pra mim, é imbatível.


O formato das histórias e episódios era o mesmo, mas que criança ficava incomoda em ver o mesmo nível de awesomeness mais de uma vez com a aquela trilha eletrizante? Que criança conseguiria criticar o roteiro e entender que o orçamento da série não era suficiente para fazer algo diferente? Que criança queria envolver-se com situações dramáticas? Eu não era essa criança. Eu fui aquela criança que queria vestir um uniforme, pilotar maquinários inspirados em dinossauros, e destruir os monstros que ameaçavam a Terra. Realizava um pouco desse desejo nos vídeo games, e nos bonequinhos. Eu tive o kit de Rangers que virava a cabeça para dentro do peito, tive arminhas e armaduras para equipar os bonequinhos... Que época!


Não faço ideia do que aconteceu com os meus brinquedos...

Outra memória viva é a de gravar no vídeo cassete “Power Rangers - O filme”. Imagino que devia ter menos de 15 anos quando assistia repetidas vezes o filme. Lançado em 1995, o filme ficou guardado na minha memória como uma das coisas mais legais que assistia na infância. Anos depois, agora mais surrado pela vida, pelas responsabilidades, e pelos papéis de trouxa, fui rever o filme de 1995 e… Que horror. A evidência do horror foi mostrada em um episódio do Honest trailers. 


Revi também alguns episódios da série na Netflix. Não é uma experiência muito legal, pois o roteiro é bem… voltado para crianças, se é que você me entende. A popular dica entre os nerds é, viu antes do 15 anos, cuidado para não ferir a memória afetiva. Se quiser ter uma sensação parecida, porque uma igual é bem difícil, ou atualizar/incrementar a memória dos Rangers, vá assistir o novo Power Rangers.

Antes de escrever sobre o novo Power Rangers é preciso fazer uma menção honrosa a Pacific Rim (2013). A obra de Guillermo del Toro, que possivelmente teve uma infância fantástica regada de fantasia, proporcionou um resgate às memórias mais divertidas da minha infância e de outras pessoas também. A luta entre robôs e monstros gigantes trouxe toda a empolgação que sentia com os Rangers. E o que dizer da guitarra de Pacific Rim? O uso da guitarra não pode ser mera coincidência.

O novo Power Rangers. Meu receio com o filme estava em três pontos. A dramaticidade, as cenas de ação, e a trilha sonora. O primeiro ponto aborda o tempo que deram para apresentar e desenvolver os novos protagonistas e o elenco escolhido. O roteiro está simples, bem escrito, e dramaticamente equilibrado, sem qualquer prepotência ou intenção de ser algo que não conseguiria ser. É um filme de origem, mas a origem de um grupo. Percebo esses filmes de origem de grupo bem mais interessantes e bem feitos do que os muitos filmes solos de heróis. Talvez, por terem que abordar mais de um personagem, os filmes sejam mais equilibrados e competentes, ou seja, sem “estrelinhas” querendo brilhar mais que outras.

O segundo ponto está nas cenas de ação. Transformers já não impressiona tanto quantos nos primeiros 2 filmes, pelo contrário, virou piada, se é que você (que já viu filme) me entende. Pacific Rim fez cenas de ação espetaculares, lindas, de ficar preso na cadeira. Power Rangers não conseguiu bater Pacific Rim nesse ponto, mas as coreografias humanas estão ótimas, e as dos gigantes estão críveis e inteligentes. A primeira vez deles no Megazord… Atenção aos detalhes, só isso. Atenção aos detalhes, essa é uma observação que faço pensando naqueles envolvidos na produção do filme. Só podem ser fãs carinhosos da história dos Rangers e do gênero.

O terceiro ponto é a trilha sonora. Fui esperançoso pra ouvir alguma coisa que me lembrasse da trilha sonora da série. Fui com expectativa de ouvir aquela guitarra, porém preparado emocionalmente para caso não acontecesse, afinal o “Go Go Power Ranger” ficaria um pouco deslocado para a proposta do filme que é de ser crível, né? Aliás, pra mim ele conseguiu ser crível, vide referências a realidade em que vivemos e o drama dos personagens, que ainda jovens e no colegial, passam por dificuldades na vida. Quero ver quando eles precisarem conciliar o job com os estudos, e salvar o universo… Aí sim vamos ver o quão heróis são. Enfim, a trilha sonora é competente para ambientar o clima heroico dos defensores do universo, e no mais, vou dizer que em certo momento dei pulinhos de alegria…

Esse novo Power Rangers tem tudo para ter uma vida longa, é só não perder a humildade no roteiro. Podem adaptar arcos da série sem problemas que iremos pagar pra ver com muito gosto! Hollywood percebeu quem está financiando o cinema de hoje. São os estagiários e os jovens trabalhadores que necessitam das boas memórias para renovar as esperanças em um mundo que hoje, VOCÊ é quem tem que comprar o achocolatado e os biscoitos recheados para assistir em frente ao que antes chamávamos de TV, e hoje chamamos de espelho negro.