sábado, 10 de maio de 2014

Snowpiercer (2013)

Que surpresa boa. Fui ver por causa do trailer e premissa sci-fi pós-apocalíptica, e tive uma grata surpresa. Sinopse rápida... A humanidade estava sofrendo com o aquecimento global. Um cara inventou um produto químico que foi liberado na atmosfera para reduzir a temperatura. Long-history-short, era do gelo na Terra. Durante essa história, um magnata excêntrico, mais viciado em trem do que o Sheldon, resolveu construir um trem auto-sustentável que dá voltas pelo mundo. Deu merda no mundo e ele começou a vender lugares em seu trem. Reza a lenda que Wilford foi generoso e deixou a ralé entrar pela porta do fundos. Como a Terra ficaria um picolé colossal por anos, Wilford entendeu que precisaria gerencia um ecossistema dentro do seu trem. Como pobre nunca está feliz... Brincadeira, o povo não tinha nem bolsa família, coitados. Não, sério agora. O pessoal da calda do trem vivia na pura miséria, comendo apenas uma barra proteica de origens questionáveis. E também não é de hoje que eles pensam em rebelião por melhores condições de vida.


A partir dessa linha, você fica avisado que o restante do texto contém spoilers.

A ambientação do enorme trem, e seus setores, é fantástica e maravilhosa, dependendo do vagão. As escalas sociais representadas pelos vagões são sensacionais. O trem em si é uma metáfora para o equilíbrio de um ecossistema. Se existem segredos do universo, o equilíbrio é um dos maiores. Uma vez descoberto este segredo, tudo se torna mais complexo, mas, possível de ser atingido, basta determinação. Wilford e Gilliam mandam um abraço.

Fora essa metáfora do equilíbrio, a história do herói Curtis (Chris Evans), também acrescenta para análise sociológica do filme. A história que ele conta para o pai de Yona é pesada e diz muito sobre o caráter dele. Mas nada explodiu mais minha cabeça como a revelação feita por Wilford. A revelação num primeiro momento é tão desumana, e num segundo momento compreensível, que a palavra paradoxo passou pela minha cabeça. Confesso que acho dificílimo julgar como Wilford e Gilliam como desumanos, sendo que, o que eles faziam era para a manutenção da humanidade. Não existe, e dificilmente existirá, utopia, igualdade social, é com tristeza que declaro isso.

Respirou fundo e aceitou a vida de fudido? Vamos em frente... Minha parte preferida, que tbm explodiu minha cabeça, é toda a sequência no vagão que servia como escola infantil. Aquilo não tem preço de tão bizarro, cômico e metafórico. A lavagem cerebral que fazem nas crianças dos altos-vagões (vulgo alta-sociedade), é brilhante. Vale mencionar que é de um instante pra outro que as crianças simplesmente DE-SA-PA-RES-SEM, da sala de aula no momento do tiroteio. Mais um motivo WTF para dar risada. Relevei.

Achei curioso os alívios cômicos presentes no filme. A maioria deles são proporcionados pela personagem de Tilda Swinton, que está excelente no papel de secretária traíra-sóquenão. Por um outro lado, o contrate com o drama faz parecer um humor pastelão, mas não é prejudicial para o enredo.

Senti o tempo passar, principalmente até a metade do filme. Felizmente as cenas de ação e a ambientação dos vagões fazem valer a espera. Os eventos finais são impressionantes. A fuga de Yone e o pai, e o êxtase de Curtis em assumir ou não a máquina me deixaram apreensivos. Não sei qual plot eu dispensaria... Gostaria de versões alternativas, uma como Curtis no comando, e outra com eles escapando do trem. E claro, a que aconteceu, com apenas Yone sobrevivendo. Talvez em universos paralelos isso tenha acontecido...

Pensando no final dado, com muitas mortes devido ao descarrilamento do trem... Gostaria que a avalanhce tivesse impactado o trem de outra forma. Imaginar a sobrevivência apenas dos dois é muito difícil. Assim, esperando pela morte deles, aquele restinho de esperança para que a humanidade cresça novamente, se perde, como um floco de neve numa avalanche. #bladerunnerfellings

Se você estiver se perguntando como eu encerraria o filme... Encerraria o filme com a avalanche destruindo da metade do trem pra ponta. Da metade pra cauda ainda sofreria um grande impacto, mas não da avalanche em si para soterrá-los. De lá sairiam diversas pessoas. Fim. Duas pessoas apenas, uma adolescente e uma criança, não vão sobreviver por muito tempo sozinhos.

P.S.: O filme é uma adaptação de uma HQ francesa chamada Le Transperceneige, de 1984. Nos torrents da vida você encontra a HQ.
Francês: aqui. Inglês: aqui.