quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Comentários: RoboCop do Padilha


Pra mim, o lema deste RoboCop é:

“Quem não deve, não teme.”

A primeira discussão que o filme traz é o uso de máquina, robôs, para pacificação de locais externos e de conflito com os Estados Unidos. O benefício de não ter seres humanos em campo de batalha é interessante, mas a automatização da guerra faz com que ela possa durar mais tempo e ainda afetando todos ao seu redor. Com a automatização da guerra podemos definir que quem tiver a melhor tecnologia irá dominar. Nessa corrida, o Estados Unidos está bem.

“O que é mais importante do que a segurança do povo americano?”

Fantasiados de segurança para o povo, a tecnologia mostrada no filme também pode, e deve, ser vista como controle da massa por uma organização. O Big Brother, mais uma vez, ataca através da tecnologia. O RoboCop pode ser visto como um fantoche de uma organização. Uma máscara que encobre diversas pessoas em busca de poder e soberania, uma posição privilegiada, querendo torna-se inalcançável.

Outro elemento abordado no filme é a corrupção na polícia. Assim como em Tropa de Elite 2, Padilha volta a colocar o dedo na ferida. Felizmente, nosso herói, com toda sua tecnologia, é capaz de descobrir os responsáveis pelo atentado sofrido. Todos os aspectos na captação tecnológica das informações são fantásticas.

Os sentimentos e as máquinas

Por um lado temos um objeto que controlamos, obedecendo, sem questionar, à nossas vontades. Do outro lado temos a discussão de julgamento desse objeto. Os humanos levam diversos fatores como, sentimentos, emoções e conhecimento para estabelecer um julgamento e agir. Já uma máquina obedece uma linha de programação pré-estabelecida, muitas vezes inflexível. O RoboCop são linhas de programação eventualmente flexíveis. O fator humano de Alex Murphy traz a flexibilidade nas decisões como ciborgue.

A política e as máquinas

Em uma sociedade democrática, a política toma caráter de marketing. É preciso vender o RoboCop para o povo, pois assim, transforma a política a favor de uma corporação. O dilema da democracia fica na discussão de quem puxa o gatilho, o organismo ou o mecanismo.

A ciência do ciborgue

A cena onde vemos um homem tocar violão com mãos mecânicas é extremamente interessante. Nela o cientista Norton fala da química no cérebro. Nossas emoções são processos químicos, e a máquina conversa com nosso cérebro através da química. Me faz pensar que o caracteriza o ser humano são as emoções = processos químicos que acontecem no cérebro.

A necessidade de equilibro emocional também é ótima, afinal, os dispositivos mecânicos reagem a química do cérebro, instabilidade psicológica é instabilidade mecânica. Isso vale tanto para máquina quanto para a biologia natural de um ser humano. Quando estamos nervosos, por exemplo, a respiração muda, transpiramos, temos tremores, desidratação, dificuldade de concentração, entre outros diversos reflexos. A abordagem disso no filme é ótima!

Então, pela primeira vez, vemos Alex Murphy e sua armadura de RoboCop, sendo interrompido de sonho agradável, para se deparar em uma situação que provavelmente nunca havia imaginado estar. O design adaptado da armadura clássica ficou bem bonito. Inicialmente, gostaria que o visual da armadura clássica fosse adotado durante todo o filme, mas a armadura escura não foi um problema, pois a falta de características memoráveis a torna comum, um simples produto. Penso também, caso houver uma continuação (algo comum em Hollywood nos últimos anos), que a armadura clássica venha a dominar no filme.

Um ponto positivo para o filme é que você consegue perceber o peso da armadura e o funcionamento dos seus mecanismos. Como num primeiro voo de super-herói, ou caminhar de um Avatar, Alex põem em teste sua armadura. É sequência bem bacana.

Minutos depois vem a surpresa e o choque. Ver o que foi aproveitado de Alex é um dos maiores sustos que já tive no cinema, junto com a cena do parto em Prometheus. De Alex só sobrou o sistema respiratório, a mão direita, e a cabeça. Em conversa com um amigo, chegamos no pensamento de que o sistema respiratório é um grande diferencial quando observamos as máquinas e uma caraterística fantástica do corpo humano que esquecemos que está ali. Respirar é tão normal que me dá vontade de rir. Curiosidade: quando você pensa que caiu, tropeçou, etc, durante um sonho, é seu cérebro te lembrando de respirar, pois você provavelmente não estava respirando.

A mão trás o elemento simpático. Cumprimentar uma mão gelada, de metal, não é tão agradável como uma mão humana. Também tem a história metafórica de quem está puxando o gatilho, que acho interessante. A mão tem diversos significados simbólicos.

A cabeça, ou melhor, o cérebro. Eu sou viciado quando o assunto é braaaaaains (efeito sonoro zumbi). O cérebro é fascinante. Um CPU de computador é um cérebro wannabe. Ele é quem nos diferencia das máquinas. Ele é o criador. Next.

O doutor Norton quer ver seu estudo em ação, embora Alex deseja, por um momento, a morte. A decisão de Alex cabe apenas a ele. É uma situação complexa. Primeiramente ele está emasculado, não deve ser legal. Segundo porque o corpo é outro, apenas as memórias são as mesma, a adaptação é complexa. Agora, eu na situação de Alex, ia passar por diversos questionamentos, mas acredito que chegaria na conclusão de que ia ser badass. Ia prender todos os bandidos e corruptos, e claro, ter ligação com mulher e filho. E não me importaria se me chamassem de Batman wannabe. =)

O teste do homem de lata reforça a discussão dos diversos fatores em um julgamento e nos proporciona ação com a música do Mágico de Oz ao fundo. If I only had a heart... ♪♫♩♫

De um lado temos um empresário querendo um produto 100% vendável, manipulável, com o mínimo de possibilidades de erro, e do outro temos o cientista querendo manter uma porcentagem do que faz Alex humano, sua consciência. Falsificar a consciência de Alex é mais um passo na manipulação do ciborque e um comportamento curioso por parte do doutor. Nós sabemos as motivações do empresário, mas e as do doutor? Ego? Financiamento de pesquisas? Experimento científico?

Alex será apresentado como RoboCop. A inserção do banco de dados da polícia no cérebro + dispositivos eletrônicos de Alex é incrível. Um dos meus sonhos é conseguir armazenar tanta informação e como vemos mais a seguir no filme, combiná-las e revê-las. Estou no aguardo. Vou comprar no carnê das Casas Bahia quando estiver a venda. =)

Acho que não há dúvidas sobre o RoboCop com sentimentos (Alex com livre arbítrio de emoções) ser uma das curas para o crime e a ordem. Ao menos gosto de crer nessa hipótese. Em entrevistas com José Padilha, um repórter sugeriu RoboProfessor, RoboPolitician... Afim de melhorar e “curar” a sociedade.

A corrupção

Existem profissionais corruptos em qualquer profissão, é uma falha humana. Só que o RoboCop é sensível a corrupção quando com acesso ao banco de dados da polícia. Mas a desvantagem é que ele ainda está nas mãos de alguém. Uma vez agindo por conta própria, o RoboCop se torna um herói público. O problema da corrupção é que os do mais alto escalão manipulam tudo e todos, dificultando a entrada de informações no banco de dados do RoboCop. Assim voltamos pra estaca zero da investigação criminal.


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