Pra mim, o lema deste RoboCop é:
“Quem não deve, não teme.”
A primeira discussão que o filme traz é o uso de máquina, robôs, para
pacificação de locais externos e de conflito com os Estados Unidos. O benefício
de não ter seres humanos em campo de batalha é interessante, mas a
automatização da guerra faz com que ela possa durar mais tempo e ainda afetando
todos ao seu redor. Com a automatização da guerra podemos definir que quem
tiver a melhor tecnologia irá dominar. Nessa corrida, o Estados Unidos está bem.
“O que é mais importante do que a segurança do povo
americano?”
Fantasiados de segurança para o povo, a tecnologia
mostrada no filme também pode, e deve, ser vista como controle da massa por uma
organização. O Big Brother, mais uma vez, ataca através da tecnologia. O
RoboCop pode ser visto como um fantoche de uma organização. Uma máscara que
encobre diversas pessoas em busca de poder e soberania, uma posição
privilegiada, querendo torna-se inalcançável.
Outro elemento abordado no filme é a corrupção na polícia.
Assim como em Tropa de Elite 2, Padilha volta a colocar o dedo na ferida.
Felizmente, nosso herói, com toda sua tecnologia, é capaz de descobrir os
responsáveis pelo atentado sofrido. Todos os aspectos na captação tecnológica
das informações são fantásticas.
Os sentimentos e as máquinas
Por um lado temos um objeto que controlamos, obedecendo,
sem questionar, à nossas vontades. Do outro lado temos a discussão de
julgamento desse objeto. Os humanos levam diversos fatores como, sentimentos,
emoções e conhecimento para estabelecer um julgamento e agir. Já uma máquina
obedece uma linha de programação pré-estabelecida, muitas vezes inflexível. O
RoboCop são linhas de programação eventualmente flexíveis. O fator humano de Alex Murphy
traz a flexibilidade nas decisões como ciborgue.
A política e as máquinas
Em uma sociedade democrática, a política toma caráter de
marketing. É preciso vender o RoboCop para o povo, pois assim, transforma a
política a favor de uma corporação. O dilema da democracia fica na discussão de quem puxa o gatilho, o organismo
ou o mecanismo.
A ciência do ciborgue
A cena onde vemos um homem tocar violão com mãos
mecânicas é extremamente interessante. Nela o cientista Norton fala da química
no cérebro. Nossas emoções são processos químicos, e a máquina conversa com nosso
cérebro através da química. Me faz pensar que o caracteriza o ser humano são as
emoções = processos químicos que acontecem no cérebro.
A necessidade de equilibro emocional também é ótima,
afinal, os dispositivos mecânicos reagem a química do cérebro, instabilidade
psicológica é instabilidade mecânica. Isso vale tanto para máquina quanto para
a biologia natural de um ser humano. Quando estamos nervosos, por exemplo, a
respiração muda, transpiramos, temos tremores, desidratação, dificuldade de
concentração, entre outros diversos reflexos. A abordagem disso no filme é
ótima!
Então, pela primeira vez, vemos Alex Murphy e sua
armadura de RoboCop, sendo interrompido de sonho agradável, para se deparar em
uma situação que provavelmente nunca havia imaginado estar. O design adaptado
da armadura clássica ficou bem bonito. Inicialmente, gostaria que o visual da
armadura clássica fosse adotado durante todo o filme, mas a armadura escura não
foi um problema, pois a falta de características memoráveis a torna comum, um simples produto. Penso também, caso houver uma continuação (algo comum em Hollywood
nos últimos anos), que a armadura clássica venha a dominar no filme.
Um ponto positivo para o filme é que você consegue
perceber o peso da armadura e o funcionamento dos seus mecanismos. Como num
primeiro voo de super-herói, ou caminhar de um Avatar, Alex põem em teste sua armadura. É sequência bem bacana.
Minutos depois vem a surpresa e o choque. Ver o que foi
aproveitado de Alex é um dos maiores sustos que já tive no cinema, junto com a cena
do parto em Prometheus. De Alex só sobrou o sistema respiratório, a mão
direita, e a cabeça. Em conversa com um amigo, chegamos no pensamento de que o
sistema respiratório é um grande diferencial quando observamos as máquinas e
uma caraterística fantástica do corpo humano que esquecemos que está ali.
Respirar é tão normal que me dá vontade de rir. Curiosidade: quando você pensa
que caiu, tropeçou, etc, durante um sonho, é seu cérebro te lembrando de
respirar, pois você provavelmente não estava respirando.
A mão trás o elemento simpático. Cumprimentar uma mão gelada, de metal, não é
tão agradável como uma mão humana. Também tem a história metafórica de quem
está puxando o gatilho, que acho interessante. A mão tem diversos significados
simbólicos.
A cabeça, ou melhor, o cérebro. Eu sou viciado quando o
assunto é braaaaaains (efeito sonoro zumbi). O cérebro é fascinante. Um CPU de
computador é um cérebro wannabe. Ele é quem nos diferencia das máquinas. Ele é
o criador. Next.
O doutor Norton quer ver seu estudo em ação, embora Alex
deseja, por um momento, a morte. A decisão de Alex cabe apenas a ele. É uma
situação complexa. Primeiramente ele está emasculado, não deve ser legal.
Segundo porque o corpo é outro, apenas as memórias são as mesma, a adaptação é
complexa. Agora, eu na situação de Alex, ia passar por diversos
questionamentos, mas acredito que chegaria na conclusão de que ia ser badass.
Ia prender todos os bandidos e corruptos, e claro, ter ligação com mulher e
filho. E não me importaria se me chamassem de Batman wannabe. =)
O teste do homem de lata reforça a discussão dos diversos
fatores em um julgamento e nos proporciona ação com a música do Mágico de Oz ao
fundo. If I only had a heart... ♪♫♩♫
De um lado temos um empresário querendo um produto 100% vendável, manipulável,
com o mínimo de possibilidades de erro, e do outro temos o cientista querendo
manter uma porcentagem do que faz Alex humano, sua consciência. Falsificar a
consciência de Alex é mais um passo na manipulação do ciborque e um
comportamento curioso por parte do doutor. Nós sabemos as motivações do
empresário, mas e as do doutor? Ego? Financiamento de pesquisas? Experimento
científico?
Alex será apresentado como RoboCop. A inserção do banco
de dados da polícia no cérebro + dispositivos eletrônicos de Alex é incrível. Um
dos meus sonhos é conseguir armazenar tanta informação e como vemos mais a seguir
no filme, combiná-las e revê-las. Estou no aguardo. Vou comprar no carnê das
Casas Bahia quando estiver a venda. =)
Acho que não há dúvidas sobre o RoboCop com sentimentos (Alex
com livre arbítrio de emoções) ser uma das curas para o crime e a ordem. Ao
menos gosto de crer nessa hipótese. Em entrevistas com José Padilha, um
repórter sugeriu RoboProfessor, RoboPolitician... Afim de melhorar e “curar” a
sociedade.
A corrupção
Existem profissionais corruptos em qualquer profissão, é
uma falha humana. Só que o RoboCop é sensível a corrupção quando com acesso ao
banco de dados da polícia. Mas a desvantagem é que ele ainda está nas mãos de
alguém. Uma vez agindo por conta própria, o RoboCop se torna um herói público.
O problema da corrupção é que os do mais alto escalão manipulam tudo e todos,
dificultando a entrada de informações no banco de dados do RoboCop. Assim
voltamos pra estaca zero da investigação criminal.
Meus comentários ficam por aqui. Sinta-se a vontade para compartilhar suas opiniões.